quinta-feira, 28 de junho de 2018

Resumo sobre o Projeto Mobilidade Humana: passado e presente

"O Espírito Santo tem uma formação sociocultural marcadamente constituída pela diversidade. No século XIX tem início o processo de assentamento de imigrantes estrangeiros e nacionais Estado. Com a erradicação do café e a implantação dos Grandes Projetos na Região da Grande Vitória no último quartel do Vinte há uma mudança no padrão do fluxo migratório constituído. Fundamentado na perspectiva da história de longa duração, este projeto propõe descrever e analisar as distintas fases de desenvolvimento socioeconômico e cultural do Espírito Santo articulando-o ao movimento de mobilidade humana estruturada em três diversos momentos: 1) o período inicial da imigração estrangeira e nacional marcada pela presença de açorianos, italianos, pomeranos, alemães, chineses, nordestinos, mineiros, fluminenses, dentre outros; 2) o início do século XX até os anos de 1960, marcado por uma intensa migração interna, pela vinda de árabes e poloneses, e pela exploração da fronteira norte e noroeste ; 3) a partir dos anos de 1970 com a implantação dos grandes projetos industriais até os anos de 2016, com o aumento do fluxo migratório inter-regional para a Região Metropolitana da Grande Vitória. Neste sentido, objetiva apresentar e inserir aos alunos, moradores de Cariacica, ou de outros municípios da Região Metropolitana da Grande Vitória, tanto migrantes como descendentes ou não, iniciar/conhecer um trabalho científico de conhecimento da sua história (passada e presente). Deste modo, visa entender os efeitos do fenômeno migratório, articulado à industrialização do Espírito Santo, analisando tanto os aspectos socioeconômicos e culturais quanto espaciais no crescimento das cidades. Para tal, utilizará dois procedimentos metodológicos: 1) levantamento de dados bibliográficos e cartográficos em arquivos e bibliotecas; 2) realização de entrevistas profundas e de história de vida com migrantes, com descendentes, e com alunos e familiares partícipes do processo imigratório ou de mobilização humana." 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Relatos de entrevistas etnográficas produzidas para as oficinas de caderno de bordo


Entrevistas feitas pelos estudantes com seus familiares sobre história de vida e imigração no Espírito Santo, desenvolvidas para as oficinas de caderno de campo ministradas pela monitora Tatiana Dias Zocrato


As entrevistas entregues pelos estudantes do colégio EEEFM Ary Parreiras, em Cariacica ES, foram realizadas com intuito de buscar um resgate histórico e cultural de seus familiares. As oficinas de caderno de campo foram ofertadas em diversas etapas, contribuindo com o conhecimento prévio da noção dos estudos antropológicos e do método etnográfico como forma de busca da compreensão das diferenças notadas pelos familiares entrevistados sobre a vida antes da mudança para o estado do Espírito Santo e também interestaduais. Os relatos de campo possibilitam uma maior aproximação e incentivo dos estudantes com a prática científica de pesquisa, além de trazer uma maior aproximação e reflexão sobre o passado, as dificuldades e as modificações vivenciadas ao longo do tempo.

Entrevista realizada pelo estudante Eric 

Observações de campo, relatos de um estudante:
30/10/2016
·         Durante a entrevista, a entrevistada se mostrou bastante pensativa. Mas um pensativo feliz, pois, ela gosta de relembrar de onde veio, e os costumes de lá.
·         Mediante aos costumes e hábitos, a mesma comenta que, ela sentiu um "choque", pois, eram experiências novas para ela.
·         Durante o momento em que retrata suas dificuldades, seu semblante se mostra mais abatido, pelos imensos sustos que passara por ser algo novo para ela.
·         Mas em todo momento permanece em olhar de orgulho, por ser uma batalhadora e conseguir superar cada dificuldade com bastante garra e força de vontade.
Eu: a Senhora lembra de lá? Quando morava em Minas?
Pessoa: lembro.
Eu: Como era lá?
Pessoa: Ah, quando a gente morava lá era bom né, nessa época era bom quando a gente morava lá, assim, era "dificulidoso" , "dificuldade" porque naquela época né, era mais "difíci", não era como hoje-em-dia, que tem muita facilidade, naquela época não, era muito "difíci".
Eu: Era muito difícil né?!
Pessoa: É, era muito "difícil" naquela época.
Eu: e o que a senhora fazia lá?
Pessoa: Trabalhava na roça!
Eu: Como assim, colhendo café?
Pessoa: Colhendo café, "prantando" feijão, "conhendo minho". Era o que a gente fazia.
Eu: A senhora se lembra como era lá?
Pessoa: Como era?
Eu: Sim, como que era.
Pessoa: Assim,
Eu: A casa que a senhora morava...
Pessoa: ah, era uma casa! Uma casa assim... aquelas casas antiga?! Aquelas casinhas de "cuminheira" não sei se você já viu...?
Eu: Não... conheço não...
Pessoa: quando "cê" for em "mina" é o que "ce" mais vai "ve". Aquelas casinha de “cuminheira”... assim, era até bonitinha né?! Pra quela época né.
Assim, de soalho, não era assim em peso, mas era tudo em sualho, a cozinha era de terra, acredita?
Eu: acredito, já até vi.
Pessoa: Isto, desse jeito.
Eu: E a senhora morava onde?
Pessoa: Morava em ... Bairro Alegre.
Eu: Lá em Minas né? Interior?
Pessoa: Isto ... depois de Aimorés ... bem distante.
Eu: E quando a senhora veio para cá? Se lembra? Quando veio...
Pessoa: Quando eu vinho? Ixi... já faz muito tempo...
Eu: Uns.. 20 anos?
Pessoa: Tem mais sabe... eu lembro de quando eu vim "praqui", pelo meu filho, eu tinha um filho né, nenenzinho ele era... ele não tinha nem um aninho ainda, acho que tinha 6 "meis", nessa época. Hoje, ele já está com uns ... 30 ... e poucos, acho que uns 40, ta chegando nos 40...
Eu: Então mais ou menos uns 40 anos que a senhora já está aqui?
Pessoa: É por aí, se não em janeiro faz.
Eu: E quando a senhora veio de lá para cá, notou muita diferença?
Pessoa: Notei! ... Grande diferença!
Eu: imagino né, porque a senhora não trabalhava com nada que tinha aqui né?
Pessoa: Não, não trabalhava. E fiquei um bom tempo sem trabalhar, eu só comecei a trabalhar só depois e eu ainda separei do pai do meu fio, porque ele não deixava eu trabalhar né, e eu não podia trabalhar, então era ele que tinha que trabalhar, eu não trabalhava. Só depois, que passou um tempo e a gente separou, e assim sim, ai eu comecei a trabalhar.
Eu: OK, voltando la, quando a senhora era criança. Se lembra dos costumes da senhora? Por exemplo: brancadeiras ou como os adultos tratavam as crianças?
Pessoa: assim, eu alembro quando eu era mocinha, uns 13 ano, 14 ano, a gente brincava muito assim, com as outras meninas, coleguinhas né, pra pode brincar, a tarde, a gente brincava no quintal escuro né, porque não tinha luz, brincava naquele quintal escuro, mas primeiro a gente tinha que fazer o trabalho antes de brincar. A gente moía cana... não sei se você já ouviu falar. A gente tinha que moer cana primeiro, pra depois brincar com a filha da vizinha, a gente brincava de passar anel, brincava de esconder, era isso as brincadeira.
Eu: Mas quando a senhora veio de lá, teve muita diferença, nos costumes? Exemplo: bandido, lá não tinha assalto né?
Pessoa: Nossa! Nem falava disso!
Eu: Nem falava?
Pessoa: Não! Nem falava que tinha assalto! Era a coisa mais difícil que tinha, eu me lembro, quando a gente morava no ... num local la, muito distante, que apareceu um rapaz la, e esse rapaz roubava. Nesse dia deu até polícia na nossa casa, mas atrás dele né. Ai, eles levaram esse rapaz, a gente ficou assim, "oiando" sabe, porque eles amarraram as mão dele para tras, e levaram aquele rapaz. Eu só não me lembro porque, mas levaram ele preso.
Eu: Ah, ta... porque naquela época era todo mundo muito unido né, então quase não existia esse tipo de coisa né...
Pessoa: Isso...
Eu: E transporte era Cavalo? A pé?
Pessoa: Cavalo...
Eu: Cavalo ... e a senhora gostava de andar?
Pessoa: Gostava! Nossa, e como gostava! Eu me lembro uma vez que a gente "tava" vindo pra casa de Cumpade Bastião, e tinha uma cordinha, e ele arraiava e a gente montava, uma vez desceu comigo a ribanceira ... Nossa! E eu saio e ela desceu, la em baixo com a cela e tudo na "carcunda" aí as meninas tiveram que ir em casa fazer um "faxo de fogo" e vim pra iluminar, pra poder tirar ele, porque a bichinha machucou, e em pouco tempo ela morreu...
Eu: Mas assim, comparando sua vida lá e aqui, a senhora voltaria pra lá?
Pessoa: Não! Voltaria não...
Eu: não?
Pessoa: Não!
Eu: ah, ta. Qual foi o principal motivo para a senhora vir para cá?
Pessoa: Principal motivo foi porque lá, só tinha serviço de roça né, então só tinha serviço de roça né, então serviço de roça já era mais "dificulidoso". Ai o pai dos meu filho resolveu vim pra cá. Ai então a gente veio, ele veio na frente pedindo serviço, depois foi me buscar mais os menino... nessa época eu tinha 3 filho, quando eu vim praqui. E ai foi isso...
Eu: Então ta. Obrigado!




Entrevista realizada pela estudante Rafaela

Meus avós por parte de pai moravam em Laranjal com seus 10 filhos. Em laranjal, meus avós viviam de compra e venda de animal, fruta e verdura. Lá tinha plantação de café, banana e manga, porém não estava dando conta de sustentar a vida lá. Então eles decidiram se mudar para Boca do Mato em Cariacica, onde moram atualmente.
No começo, eles quiseram voltar, pois não estavam se acostumando com a vida nova aqui, demoraram a fazer amizade com as pessoas pois não tinha quase ninguém morando perto deles.
Para criar coragem de arrumar a mudança, demorou mais de uma semana, até então eles queriam voltar. Mesmo aqui sendo melhor de se viver pois teriam uma condição melhor, tanto financeiramente como em segurança, eles queriam voltar, até porque lá eles já tinham toda uma vida formada.
Minha tia disse " Pensa em um lugar feio, mas feio mesmo. Agora multiplica por dez, então, é lá mesmo onde a gente morava. Não tinha nada em volta, só muito mato. Tinha uns três vizinhos mais ou menos. Nossa casa era boa. A gente já tinha feito amizade lá, por isso sentimos bastante falta no início.
A vida da família lá era basicamente acordar, tomar café, ir para escola a pé e era quase meia hora andando e quando voltavam, almoçavam correndo para ir ajudar os meus avós na roça.
Eles tinham o costume de ir para igreja e depois brincar de roda com os amigos. Minha tia disse que brincou de roda até os dezoito anos. O perigo de lá era quando os capangas chegavam, homens que andavam armados e em cavalos. Quando eles chegavam todos corriam para dentro de suas casas, menos minhas tias que eram amigas deles.
Dois dos motivos que fizeram com que eles se mudassem para cá, foram água e luz. A água era da nascente, meu avô encanou e colocou na porta de casa, porém só dava para ficar lá, devido a casa ser muito alta. A luz foi um dos motivos principais, pois lá não tinha, eles apenas usavam lamparina e aqui já tinha energia.
Eles vieram para cá com o objetivo de uma vida melhor e mais segura, eles conseguiram e estão aqui há cinquenta anos.




Entrevista realizada pelo estudante Eric 


Eu: O que a senhora lembra do seu tempo de criança?
Pessoa: No meu tempo de criança?
Eu: É, sim
Pessoa: Ah, eu desde a infância eu lembro que fui muito “sufrida”, criada sem pai, pelo meus “savô”, minha vó era muito braba *a pessoa riu*, e quando a gente cresceu mais se entendendo por gente, eu fui “pa” casa do “soto”, trabaiar” na roça ATÉ casar, ai casei, depois não pude mais ver eles, “separemos”, e fui morar com ele, e “graça a Deus”, se sua avó tem 50 ano de casado, “nóis” tem 60…
Eu: Muito tempo né?
Pessoa: É, 60 ano.
Eu: OK, e conheceu ele como ? trabalhando?
Pessoa: “Trabaiando” uai. Eu “trabaiava” numa casa, e ele “trabaiava” na roça. E lá no circuito do Brotão, todo dia vinha cavalo pra “trabaia” na roça, eu e “cumpadi Genéis”, os dois “junto”, ai eu conheci ele, e “fomo” pa compra a “mia” dele, mas não tinha nada. Ai depois passou, fiquei esperando da primeira menina né. Depois eu quase “murrio” quando tive la… quase “murrio”. Ai depois nois “ficamo” com a vida, nós e a “pô”  retão “trabaiava”, depois ajudava o “cumpadi” “Genéis” cá. Cuidar dos nosso animal, depois nóis mudemo pro retão, peguei muita infermidade. Não sei se isso ai você pode “pôr”, mas uma infermidade muito grande na minha perna, por cinco ano, e eu nunca fui no médico, ai por ai foi, ai eu ganhei Maria, ganhei a Nilda…E fui “sofreno”, trabaiando puxado, pra tratar dos meu fio, e hoje graças a Deus eles pode ajudar em alguma coisa…E minha vida foi essa, “trabaiar” na casa do “soto”, trabaiar em casa de “famia”. Quando era na roça, “debruiar mio”, moía no pilão, buscar lenha, tudo isso era o nosso serviço que “nois” fazia.
Eu: plantava muito também?
Pessoa: plantava muito na roça, pegava o café e ia pra lavora.A gente não guentava ficar em cima, e então negava sabe, aquelas “cafua” de café. A gente entrava e eles iam botando assim em baixo. E ia tirando por cima e ia caindo no chão, depois no dia de juntar, a gente ia pa carreia do passeio, e ia juntando até desce em baixo, chegava lá em baixo e tinha aquele montão de café, assim pra depois banar, e tinha peneira ainda, banando tudo, e depois a gente botava pra secar. A nossa luta foi essa.
Eu:E desde aquela época, pra agora, ta muito diferente né? Por exemplo: telefone… essas coisas, porque não tinha né.. ?
Pessoa: Não, não tinha, nois andava era a pé, ia no “sobeta”, e era uns… 10 km da nossa casa. E nois ia a pé, voltava a pé. Nois ia de madrugada, meio dia nois tava em casa. Nossa vida foi essa, não tinha um carro pra andar, não tinha nada, e hoje nem “bicicreta” eu sei andar, não aprendi né.
Eu: Naquela época se andava de cavalo também né?
Pessoa: É, cavalo eu andei muito. Buscava remédio la, na dona Maria cordeiro. Na época que eu aprendi a andar de cavalo, eu tava gravida da primeira menina. Sebastião(marido) ficou doente, e eu ia buscar remédio pra ele.
Eu: e onde a senhora morava?
Pessoa: “anti” deu casar, eu morava indo pro machado, e depois que eu juntei com Bastião, nois moramos por muitos anos no “Ciriquito” e depois fomos pro retão, e de lá que eu fui pra Rosca seca…
Eu : então a senhora não viveu só na Rosca seca  não né?
Pessoa: Não, eu morei depois que eu mudei pra li. E tem mais de 30 anos que eu moro na Rosca seca. Eu fui pra Rosca Seca eu Levei só Nilda e Maria. E ali (Rosca seca) eu tive o “Dimilso” , o “Bastiãozinho”, e a “Lenilde” … Ganhei eles tudo ali na Rosca.
Eu: Ah, ta, e a Violência  ? Teve muita violência, eles assaltavam muito?
Pessoa: Não! Tinha nada disso, a pessoa podia sair sozinho, e andar, que você não via nada disso, desse negócio de droga…
Eu: Não né?!
Pessoa: Não!, Ih, meu fio, a gente fazia um forró, e dançava a noite inteira, a gente ia pra lavoura, quando acabava a lavoura, quando dava de noite era o forró, você podia ir, e dançava a noite inteira, nunca acontecia nada. Criança…, você podia beber igual hoje, eles bebiam cachaça, Toda vida, bebe né. Mas na estrada você podia andar sozinho, ninguém te cercava, ninguém fazia nada.
Eu: Então a segurança era boa né?
Pessoa: Era, não tinha esse negócio de droga de lá, droga daqui…, a gente nem sabia que que era isso, de pouco tempo pra cá, que eu fiquei sabendo. Fui descobrindo, essas coisas coisa a gente nunca viu. No nosso tempo de mais jovem não tinha isso. A gente tinha que trabaiar tudo muito sofrido, mas isso não. Você tinha que trabaiar porque era sofrido, você não tinha as coisas pra comer direito, as vezes a gente fazia uma comida sem gordura, e comia aquilo, mas ficava gostoso, hoje tem as coisas de comer as vezes nem tem gosto de comer né…
Seus tios e seu avô, também sofria muito. Trabalhando na roça, a mãe deles socava “mio” na panela pra fazer canjica, pra fazer comida, porque não tinha gordura pra fazer. Isso tudo, nois passamo na nossa vida né. Se é pra contar o passado da gente, é isso que eu tenho porá te contar.
Eu: Mas assim, a comida era diferente né?
Pessoa: era, a gente tinha canjica, feijão, uma farinha torrada, uma carne de porco, porco existia muita carne, a gente matava o porco em casa. E os companheiro, a gente tratava muito de companheiro, era de comida, era de almoço, merenda depois de meio-dia, depois janta, pros companheiro na roça. Igual hoje, as vezes você almoça e as vezes ne janta né, e de primeiro não, você fazia almoço, oito hora e almoçava na roça. Dava meio-dia , era a merenda, dava duas hora estava a janta na mão.
Eu: Já?
Pessoa: Já, e era socado no pilão, “maiava” cana, no engenho, pra ficar garapa. É incrível, como eles falam comigo lá, eu sinto muito, eu fico triste mesmo,. Porque todo dia, igual hoje é 13, Todas 13 eu alembro do nosso sofrimento. Quando eu e minha mãe, nois morava na roça, eu e minha menina. Como a gente ficava o dia todo na roça, minha menina ficava com fome, e eu não tinha pra da, ai nois foi embora, a “muier” tava jantando, e perguntou pra ela se ela queria comer, e ela aceitou e comeu tudo, eu fico triste por conta que eu era sufrida e não tinha pra dar pra ela. E até hoje, eu reclamo, mas eu vou parar de reclamar, o que passou, passou. E Deus vai me ajudar, porque eu vou fazer o pedido e Deus vai me ajudar. Vou entregar na mão do Senhor.
Eu: Em questão da roupa era muito difícil também né?
Pessoa: Roupa… a gente nem tinha pra vestir. De vez em quando a gente comprava lá uma Xita né, e fazia pra vestir. Se tivesse que ir na missa ir descalço, por isso eu não gostava sabe, a gente nunca tinha nada direito. Tinha uma “muier” la, que ela vendia lata de doce, ela levava aquelas latinhas de doce la em casa que nem prato a gente tinha. O Bastião levantava de madrugada, pra fazer farinha suada, uma garrafa de café, e levava pro mato pra comer. Pois é, é isso que eu tenho pra te falar, porque a gente ver hoje em dia, vocês tem calçado, tem roupa, o celular, os meu minino não, teve que trabaiar pra ter as coisa deles. Me ajudava com as coisas em casa, pra depois trabaiar. E isso meus fios passou, e hoje os fios deles tem tudo. A gente passava dificuldade, que nem sabia o que era dinheiro. A gente trabaiava pro “soto” o ano inteiro, em troca a gente pegava alguma coisa de comer. Era um saco de fubá, ou era gordura, uma rapadura, um melado, Essa foi nossa dificuldade.
Eu: Mas hoje, em dia a senhora tem muito orgulho pelo o que passou?
Pessoa: tenho! Orgulho do que passei, e tenho orgulho do que eu tenho, porque graças a deus, hoje eu tenho alguma coisa né.Porque eu nem tinha cama pra mim dormir, de primeiro, dormia numa esteira, e tinha que acordar cedo pra trabaiar. La em casa, quando o galo cantava, minha vó tinha um sistema que ela dizia: Maria, o galo cantou é a hora, quem tem duas tira uma e joga fora. *risos*
Eu: rsrs
Pessoa: A gente levantada a ia pro rio tomar o banho da gente, vestia a ropinha da gente, pra de madrugada ir pra lavoura trabaiar, chegava de noite, era a mesma coisa, ia pro córrego tomava banho e vestia a ropinha. E era assim, eu lavava as roupas punha pra secar, pra chegar, tomar banho e vestir ela. Os menino só vestia roupa ganhado do “soto”
Eu: E hoje-em-dia, ta tudo mais fácil né?
Pessoa: É hoje ta, hoje tem tudo mais fácil, nossa… hoje vocês tão no céu. Oiando o que a gente passou voc~es tão no céu. Vocês tem tudo, mas graças a Deus, hoje ta muito bom. Nossa vida foi fácil não…
Eu: Então tá bom, Obrigado pela entrevista!